December, 2020

Dezembro, 2020

Filho

Não sou o que chamaríamos de escritora, acredito que não passo nem perto de um título de tal magnitude, mas meu único intuito com tantas cartas é apenas registrar o que sinto e penso – e acho que é exatamente isso a tarefa de um escritor.

Falo disso porque durante muito tempo acreditei não ter nada a oferecer pro mundo. Nenhum talento pra música, artes ou poesia, nenhum tipo de dom que me fizesse destacar.

Acontece que no alto dos meus 24 anos (nessa parte nós rimos porque 24 anos não são tantos anos assim) acabei percebendo que ao me cobrar muito, deixei de lado a vontade de tentar coisas novas por medo de fracassar.

Escrever era um sonho quando eu era criança. Eu amava tudo relacionado a livros e histórias, poesias, idiomas. Ao crescer vi que isso era quase um modismo adolescente universal. Deixei de lado a escrita e me concentrei em ler. Acreditando não ter dom para me expressar passei a ler os que se expressavam, e a afugentar minha vontade de dizer também.

E assim foi com a música, que só hoje humildemente insisto em aprender, no recém adquirido e usado violão, e a qual você é obrigado a ouvir todos os dias.

Com o passar do tempo a cobrança e a opinião dos outros passaram a importar cada vez menos. Vendo o tempo passar fui percebendo que se nunca tentasse nada, as coisas nunca aconteceriam, e isso foi uma lição para muitas coisas. Escrever, desenhar, tocar violão, prestar provas, dançar, chamar alguém para sair, me apaixonar, viver...

O tempo é muito precioso e quanto mais a gente vê os dias passarem, mais fica evidente que não existe tempo para começar. Nem mesmo, para recomeçar.

Quero que saiba que o importante na vida não é ser excelente em algo. Ninguém espera nada de nós. O importante é ter vontade. Você não precisa ter o dom da música para se aventurar num instrumento, nem ser um prodígio da dança para se divertir.

A única coisa que você sempre deve pensar é se está fazendo algo que te faz feliz.

Amo você.

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Son

I'm not what we would call a writer; I believe I'm not even close to a title of such magnitude, but my only intention with so many letters is just to record what I feel and think – and I think that's exactly what a writer's task is.

I speak of this because, for a long time, I believed I had nothing to offer the world. No talent for music, arts, or poetry, no kind of gift that made me stand out.

It turns out that at the height of my 24 years (we laughed at that part because 24 years is not that many years), I ended up realizing that by charging myself a lot, I put aside the desire to try new things for fear of failing.

The writing was a dream when I was a kid. I loved everything related to books and stories, poetry, and languages. Growing up, I saw that this was almost a universal teenage fad. I put writing aside and concentrated on reading. Believing I didn't have the gift for expressing myself, I started to read those who expressed themselves and to chase away my desire to say too.

And so it was with music, which only today I humbly insist on learning, on the newly acquired and used guitar, and which you are obliged to listen to every day.

As time passed, the pressure and opinion of others started to matter less and less. Watching time go by, I realized that if I never tried anything, things would never happen, and that was a lesson for many things. Writing, drawing, playing the guitar, taking exams, dancing, asking someone out, falling in love, living...

Time is precious; the more we watch the days go by, the more it becomes evident that there is no time to start. Not even to start over.

I want you to know that the important thing in life is not being excellent at something. Nobody expects anything from us. The important thing is to have the will. You don't need to be musical to try an instrument, nor to be a dance prodigy to have fun.

The one thing you should always think about is whether you're doing something that makes you happy.

I love you.